Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão ...
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar ...
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!